Delegação tem a participação de mais de 20 instituições e apresentam resultados concretos de combate às mudanças climáticas
Pela primeira vez, Pernambuco participa da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) com uma delegação formada majoritariamente por lideranças de base e organizações comunitárias. O grupo leva à Belém um conjunto de soluções que transformam em prática o que o mundo ainda debate em teoria: a adaptação justa e a justiça climática nascem das periferias.
A delegação é integrada pela Rede GERA – Justiça Climática nas Periferias, que reúne universidades, governo, sociedade civil e empresas sociais em torno de um modelo de gestão compartilhada e ação territorial. A iniciativa transforma comunidades vulnerabilizadas em laboratórios vivos de inovação climática e justiça ambiental.
Coordenada pelas ONGs InterCidadania (executiva) e Gris Solidário (territorial), com apoio da Open Society Foundations, a Rede GERA tornou-se referência nacional ao construir políticas climáticas com protagonismo popular e cooperação entre saberes técnicos, ancestrais e institucionais.
Os dados confirmam a urgência: segundo o IBGE e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), 47% dos domicílios do Recife estão em áreas de risco. As chuvas de 2022 deixaram mais de 120 mortos e 9 mil desalojados, e o Atlas de Desastres Naturais (2023) aponta o Nordeste como responsável por 38% das perdas humanas em desastres urbanos no país.
“A crise climática é também uma crise social e racial”, reforça Joice Paixão, coordenadora de envolvimento territorial da Rede GERA e diretora executiva do Gris Solidário.
Inovação popular e governança de base
A Rede GERA chega à COP30 apresentando resultados concretos: mutirões de escuta comunitária, hortas integradas a cozinhas solidárias, formação de lideranças jovens e ferramentas tecnológicas para letramento climático e monitoramento de alagamentos em áreas periféricas.
A comitiva pernambucana é formada por Joice Paixão, Patrícia Xavier (InterCidadania), Daniel Paixão (startup Ih, Alagou) e Gabriela Feitosa (Iniciativa PIPA/RJ). O grupo propõe o painel “Governança Climática de Base: soluções periféricas para a adaptação justa”, na Blue Zone da COP30.
No evento, serão apresentados dois exemplos emblemáticos:
- A tecnologia socioambiental da UFPE, premiada pelo Programa Periferia Viva do Ministério das Cidades, que integra mapeamento de risco, prevenção de desastres e mobilização comunitária;
- A startup “Ih, Alagou”, criada por jovens periféricos e selecionada pelo edital Desafios Gov, que desenvolve sensores de alagamento em tempo real, já implantados em Olinda e em expansão pela Região Metropolitana do Recife.
Parceria institucional e novos investimentos
A Rede GERA avança na formalização de um convênio com o Governo de Pernambuco e a Universidade de Pernambuco (UPE) para ampliar ações de monitoramento climático participativo e inovação tecnológica em toda a RMR.
O acordo, em fase de assinatura, prevê investimentos superiores a R$ 2 milhões, com recursos provenientes de pesquisa, filantropia e governo. O objetivo é institucionalizar uma política pública antirracista de enfrentamento às mudanças climáticas, voltada à gestão de riscos nas periferias.
Educação, gênero e cuidado como estratégia política
Desde 2023, a Rede GERA promove formações de letramento climático em comunidades da Grande Recife, integrando ciência, política do cuidado e saberes ancestrais. O foco em mulheres negras e juventudes periféricas é central, reconhecendo o cuidado e a solidariedade como práticas de reconstrução territorial e resistência.
“A justiça climática só existe quando o investimento chega à base e o conhecimento das comunidades é reconhecido como tecnologia”, afirma Joice Paixão. “As soluções já estão sendo executadas nas periferias do país.”
Democracia climática e pacto de método
Na COP30, a Rede GERA propõe um novo pacto de método: comunicação que emancipa, financiamento que chega ao território e governança que nasce da cooperação.
Mais do que discurso, o trabalho se traduz em cozinhas que alimentam, hortas que regeneram, sensores que alertam e formações que empoderam.
A presença da Open Society Foundations reforça o papel da cooperação internacional no fortalecimento de soluções lideradas pela base. “O Nordeste sente primeiro os impactos, mas também é o primeiro a criar respostas”, resume Joice Paixão. “Levamos à COP30 um recado coletivo: justiça climática não é promessa, é prática viva.”

.jpg)


















