A dificuldade em contratar e reter profissionais qualificados se tornou o principal entrave ao avanço do Polo de Confecções de Pernambuco, um dos mais importantes do país. Reunindo cerca de 30 mil empresas — muitas ainda na informalidade — em cidades como Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, o setor enfrenta um descompasso crescente entre suas demandas e a realidade do mercado de trabalho local.Foto: Freepik
Não faltam encomendas nem produção. Falta gente preparada. As lacunas se concentram nas funções operacionais, como costura e acabamento, mas já se estendem a áreas técnicas que exigem maior especialização, como modelagem e engenharia têxtil. E o problema é menos conjuntural e mais estrutural: o modelo de formação profissional ainda não acompanha a velocidade com que o setor vem evoluindo. A cadeia precisa de mão de obra qualificada e com permanência, mas opera com rotatividade alta, pressionada por fatores como salários baixos, excesso de informalidade e a concorrência de setores mais atraentes, como o varejo e os aplicativos.
A crise, segundo especialistas, é resultado de múltiplos fatores. Há uma mudança geracional em curso: muitos jovens preferem empreender por conta própria ou buscar rotinas mais flexíveis do que as oferecidas pelo chão de fábrica. Ao mesmo tempo, pequenas e médias confecções perdem força na disputa por talentos diante de empresas maiores e mais estruturadas. Isso cria um círculo vicioso que desorganiza a base produtiva do polo e compromete sua competitividade em um mercado cada vez mais exigente.
Embora iniciativas de capacitação não faltem na região, há uma desconexão com as necessidades reais das empresas. E a ausência de dados atualizados — reflexo direto da informalidade que marca o setor — dificulta o planejamento de políticas públicas eficazes. Sem informação de qualidade, o risco de adotar soluções genéricas e ineficientes aumenta.
Da Folha de Pernambuco