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sábado, 27 de novembro de 2021

Taxas cobradas no cartão de crédito alcançam maior patamar desde agosto de 2017

A disparada da inflação está fazendo um estrago grande no orçamento das famílias, cada vez mais endividadas, num cenário em que os custos dos empréstimos não param de subir. Segundo dados do Banco Central, a taxa média do cartão de crédito da pessoa física teve alta pelo quarto mês consecutivo em outubro, com os juros anuais do rotativo alcançando 343,6% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2017. O crédito pessoal não consignado subiu 6,2 pontos percentuais, entre setembro e outubro, para 83,6% ao ano, enquanto as taxas dos empréstimos consignados para servidores públicos avançaram para 17,9%. Na contramão, o juro do cheque especial recuou para 128,8%.


“Esses dados mostram a nova realidade de um mercado em que a alta de juros para corrigir a inflação deve ajudar a manter elevado o desemprego estrutural. Essa é uma situação delicada do ponto de vista do orçamento familiar, mas não chega a ser alarmante ainda”, afirmou Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).



De acordo com especialistas, os aumentos refletem a elevação da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 7,75% ao ano, mas que pode passar para 9,50% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro.


Bentes destacou que, apesar de a inadimplência total para a pessoa física ter ficado estável em 3%, a taxa de calotes no crédito de recursos livres nos empréstimos pessoais voltou a crescer, após dois meses de estabilidade, passando de 4,2% para 4,3%, mesmo patamar de novembro de 2020”. “O ideal seria uma taxa de inadimplência em torno de 2%, mas acho que não vamos conseguir voltar a esse patamar tão cedo devido ao endividamento elevado das famílias”, alertou. Conforme os dados do BC, o endividamento das famílias voltou a crescer em agosto após leve recuo em julho, passando de 59,2% para 59,9% da massa salarial ampliada, novo recorde. “Retirando o financiamento imobiliário, esse percentual ainda está acima de 30%, o que acende um alerta”, destacou Bentes.


De acordo com Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o aumento dos custos dos empréstimos para o consumidor e para as empresas era esperado, porque reflete um cenário mais instável da economia e a elevação da taxa Selic, que vem ocorrendo desde março. “A Selic é um dos itens que compõem as taxas de juros cobradas pelo mercado. Os bancos estão repassando os custos superiores de captação”, alertou.


O consumidor vai continuar tendo dificuldade para contrair empréstimos, de acordo com Ribeiro. “As condições de crédito estão piorando desde o começo do ano, e os bancos estão sendo mais seletivos, temendo inadimplência”, afirmou. Segundo ele, os consumidores também estão mais receosos, diante do desemprego e do custo de vida elevados.



Para fugir dos empréstimos cada vez mais caros, o comerciário Júnior Salgado, 40 anos, pesquisou as ofertas da Black Friday a fim de antecipar as compras de Natal. Ele diz que prefere pagar as compras à vista e usar o cartão de crédito como último recurso. “Eu e minha mulher ficamos de olho nos presentes desde o início do mês. Quando chega a Black Friday, fazemos a maior parte das compras de fim de ano, fica bem mais barato”, disse.


 Por: Correio Braziliense / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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